domingo, novembro 05, 2006

A noite

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu o quis, e às vezes ele também me quis...
Em noites como esta eu o tive entre os meus braços.
O beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.
Ele me quis, às vezes eu também o queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não o tenho. Sentir que o perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ele.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-lo.
A noite está estrelada e ele não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-lo perdido.
Como para aproximá-lo meu olhar o procura.
Meu coração o procuro, e ele não está comigo...


A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não o quero, é verdade, mas quanto o quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outra. Será de outra. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não o quero, é verdade, mas talvez o queira..
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu o tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-lo perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ele me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo." ou nao..

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